3.1.09
29.12.08
22.12.08
BILHETE DE NATAL
15.12.08
O VAGABUNDO

A personagem de Charlot, que tantos críticos e biógrafos endeusaram ao serviço das conveniências de cada um, aparece-nos reduzida às justas proporções, com feições de anjo e traços de demónio, meio Quixote, meio Sancho Pança, com coração, cabeça e estômago – o que o torna a figura cem por cento humana.
Esse retrato “tirado pelo natural” desconcerta e decepciona os hagiógrafos de São Charlot, pois desfaz todas as teorias que à roda do bonifrate chaplinesco erigiram para edificação da humanidade.
Chaplin descreve com prodigiosa lucidez o carácter da sua genial criação, que lhe surgiu a bem dizer inteira e completa naquela tarde de Edendale, quando pôs “umas calças muito largas, uns sapatos muito grandes, bengala e chapéu de coco”, e adoptou um bigodinho que o fizesse parecer menos jovem sem contudo lhe esconder a expressão. Indumentária que ele quis “contraditória”, de harmonia com a própria personagem: “as calças largas e o casaco apertado, o chapéu muito pequeno e as botas enormes”. E logo descreveu a Mack Sennett o tipo multifacético que imaginara: “um vagabundo e ao mesmo tempo um cavalheiro, um poeta, um sonhador, um solitário, sempre ansioso por idílios e aventuras”, que “gostaria que o tomassem por um sábio, um músico, um duque ou um jogador de pólo”, mas que “não desdenha apanhar uma beata do chão ou furtar o chupa-chupa a um bebé”, nem “perde a ocasião de dar um pontapé no traseiro de uma senha... mas só quando está fulo!”
Naquele cenário de átrio de hotel em que lhe ensaia os primeiros passos, Chaplin tem a impressão de que Charlot, empertigado e afectado, é “um impostor que se fazia passar por cliente, quando na realidade era um vagabundo que apenas procurava abrigo”.
António Lopes Ribeiro
in “Charles Chaplin – Autobiografia”
9.12.08
QUE HORAS SÃO?

Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais importa.
Para que o horrível fardo do tempo não vos pese sobre os ombros e vos faça pender para a terra, deveis embriagar-vos sem cessar.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.
Mas embriagai-vos!
E se um dia nos degraus de um palácio, na erva verde de uma valeta, na solidão baça do vosso quarto, acordardes, já sóbrios, perguntai ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai:
– Que horas são?
– São horas de vos embriagardes!
Para que não sejais os escravos martirizados do tempo, embriagai-vos sem cessar. De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.
Charles Baudelaire(Tradução: Jorge Sousa Braga)
8.12.08
A NEVE
CITAÇÕES DO OLHAR
S. FRANCISCO DE ASSIS
S. Francisco de Assis falava outrora
Às aves e às ervinhas, triste e só…
Se tudo quanto vive, sofre e chora,
É a mesma alma eterna, o mesmo pó!
Por isso ele sentia pena e dó
Por tudo quanto doira a luz da aurora,
E não bebeu no poço de Jacob
Aquela água de vida redentora.
Irmão morte, irmão corpo, irmãs ervinhas!
Ó pedras! Ermas fontes pobrezinhas!
Lobos, uivando à lua, em erma serra!
Quanto vos amo em Deus! E sinto bem
Que esta terra que eu beijo é nossa mãe
E que a sombra de Deus anda na Terra!
Teixeira de Pascoaes
Fotografia: J. Alberto de Oliveira
15.10.08
7.10.08
O SILÊNCIO VIBRANTE
(...) Falo de uma viagem onde é possível perder o próprio nome, e morrer disso.
E então viver.
Não dormindo, como as nossas bestas respeitáveis.
Viver - digo eu.
E que o nosso afastamento, o silêncio vibrante, a grande morte pensada e amada nas profundidades - fossem bastante para vergar as bestas todas, empurrá-las pelo seu próprio sono abaixo, afundá-las até ao inferno.
Herberto Helder - Apresentação do Rosto
NA CARREIRA DA ESTRELA

Entrando eu num eléctrico (recordo-me bem, era da carreira da Estrela), deparo com Fernando Pessoa que me pergunta de chofre:
– Já notou uma coisa, ó Pascoaes? Há escritores de quem toda a gente fala e ninguém lê, e outros de quem ninguém fala e toda a gente lê. E destas duas espécies, qual, em seu entender, tem mais valor?
Respondi que aqueles de quem toda a gente fala e ninguém lê, e Fernando Pessoa rematou:
– É também a minha opinião.
(De uma entrevista de Teixeira de Pascoaes)
5.10.08
A PRIMEIRA VIAGEM
3.10.08
ESTRELA VIVA NO CÉU
19.9.08
UMA VARA DE FOGO
18.9.08
FIGURAS DE BRUMA
TRÊS VEZES AMOR
30.7.08
SALMO
23.7.08
A CASA
25.6.08
O SEGREDO MAIOR
No lugar onde ouvi
o segredo maior
havia um tanque
de água e limos
e delírios da alma.
Florido estremecia
na água o linho.
Estremecia o silêncio
rente à flor do segredo.
J. Alberto de Oliveira
12.6.08
O MENSAGEIRO
10.6.08
DUAS PALAVRAS
- Onde vais buscar o linho verbal que há nos teus versos?
- À substância unitiva e configurante dessas mesmas duas palavras.
J. Alberto de Oliveira
4.6.08
A PRONÚNCIA MUSICAL DE J. S. BACH
6.5.08
O ROSTO QUE SONHA

para José Rodrigues
Não se sabe donde
vêm a mão
o silêncio e a luz.
Com elementos primordiais
e legendas vivas
do Santo de Assis
descem e mostram o rosto
que sonha demasias.
São demasias de ser
e ternura.
Debaixo da mão
do silêncio e da luz
resplende e sonha
o primeiro de muitos rostos.
J. Alberto de Oliveira
5.5.08
DO CANTO MAIOR

[...] perguntam à Sulamita o que o seu amado tem de particular, sobretudo que tem ele que elas também não tenham nos seus
com as colunas e as minhas longas pernas onde gosta de se enrolar como heras e vinha virgem, embrenhou-se, parou ofegante,
deslizava pela minha pele mais escura que a noite, corria pelas minhas formas mais firmes que o solo dos seus combates e, finalmente, depôs em mim o segredo do seu veneno; quando acordei, estava só e tive medo que tivesse morrido ou, se morto,
eu não conseguisse encontrá-lo como meu, ou eu?
Maria Gabriela Llansol - ONDE VAIS DRAMA-POESIA?
10.4.08
OS SONS DA MELANCOLIA
4.4.08
A ALMA A PRUMO
21.3.08
UM NÚMERO VAGABUNDO
17.3.08
MARIA GABRIELA LLANSOL

Maria Gabriela Llansol, que "temia a impostura da língua", tornou-se vulnerável às "sombras do luar libidinal".
Doou-nos o fulgor da textualidade.
Convida-te a seres legente do texto, do "desejo insustentável de eternidade".
M. G. Llansol ensina que "escrever é amplificar pouco a pouco" e que o acto de ler é "uma alma crescendo".
J. Alberto de Oliveira
6.3.08
O VESPERTINO COMEÇO
22.2.08
PARA ALÉM DA MARGEM
Os poetas, os santos, os artistas - no seu obstinado desassossego e desejo de perfeição - atingem a consciência, a lucidez sensível e altiva do que são e onde estão:
para além da margem.
J. Alberto de Oliveira
19.2.08
EM SETEMBRO
corre ao vento pelo mundo
alude o amor e o sangue
de seu maternal aprumo.
Resplendece ao vento
a mulher que em setembro
leva rosas da infância
e júbilo em seus cabelos.
J. Alberto de Oliveira
5.2.08
UM ESTREMECER QUIETO
30.1.08
UM ABISMO DE VIDA
Talvez as águas em vertigem
me assinalem o rosto
e os pensamentos
a alma e os sentidos
do corpo todo.
Não olhes nem lhes toques.
É um abismo de vida
o perigo de morte.
J. Alberto de Oliveira
28.1.08
QUASE DE AMOR
Trata-se de um nome
escrito ao frio
muito branco da lua.
Trata-se do esplendor
de geadas e linho puro
num lenço antigo.
Num lenço que dizes
ser quase de amor.
J. Alberto de Oliveira
19.12.07
17.12.07
OH NOITE SUBLIME
30.11.07
NESTE SÍTIO DE SILÊNCIO
15.11.07
UNICUM NECESSARIUM
3.11.07
SOPRO A SOPRO
15.9.07
O SÉTIMO SELO
NO SILÊNCIO DO VIDRO
27.7.07
A OBRA QUE SE ESBOÇA
19.7.07
A REFLEXA LUZ
13.7.07
O ORVALHO DO NOME
9.7.07
O LUXO DE SER
5.7.07
PERDIDAMENTE FLORBELA
29.6.07
PIER PAOLO PASOLINI
Per essere poeti, bisogna avere molto tempo:
ore e ore di solitudine sono il sono modo
perchè si forma qualcosa, che è forza, abbandono,
vizio, libertà, per dare stile al caos.
Io tempo ormai ne ho poco...
Pier Paolo Pasolini
AO VIR DA MADRUGADA
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