1 - ENREDO
Madalena foi ao sepulcro muito
cedo. Ainda era escura a madrugada.
Madalena olhou para dentro do
rochedo e viu que estava limpo e vazio. Ainda bem, porque assim ela passa de
uma cisma a outra.
Madalena esquece num relâmpago a
palidez do corpo deixado no abismo da morte e principia a intuir um corpo redivivo,
iluminante.
Em alvoroço ela correu para o
mundo. Foi contar tudo.
Madalena correu ao ritmo da
memória tocada por palavras novas.
Pelo caminho, Madalena aprendeu a
conjugar o verbo ressuscitar com ressonâncias vivas, rutilantes.
2 - QUASI-POEMA
A ressuscitação foi um sublime flash divino.
Um instante de vigor na presença
de anjos.
E depois, só depois, foi dito aos
humanos: “ressuscitou!”
O redivivo mostrou-se e falou a
quem procurava o seu corpo,
seu corpo de súbito renascido
para o alvoroço do encontro.
O redivivo falou primeiro à
mulher que saiu de casa
pelo silêncio da madrugada ainda
escura.
Superando a distância, as
encruzilhadas e as horas tardias,
a mulher antecipou-se aos ruídos
do mundo.
Venceu a negrura, a morte e o
vazio.
3 - POEMA
Para dentro da pedra
escorre em ferida
o silêncio da pergunta
onde
o puseram
o
corpo que tanto procuro?
Para dentro da pedra
se debruça
o pensamento da mulher
apurando os sentidos do amor
com perfumes de lume novo.
J. Alberto de Oliveira