14.4.18

AUTOPSICOGRAFIA - FERNANDO PESSOA





O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa


Imagem: Foto – A. Machado – Fernando Pessoa na entrada 
do teatro Schauspielhaus (Zurique) - Suíça







11.4.18

PALAVRA ERRANTE




Há um poema que precisa
de uma palavra

errante ou vagabunda.

Uma palavra que minta
e que nunca

ensine coisa alguma.

Aquela palavra que não 
seja roída pelas traças.

J. Alberto de Oliveira