Há muitos e muitos anos, veio ao mundo um
menino, cujo pai ao vê-lo nascer, correu à relojoaria mais
próxima e comprou um despertador para que a mãe desse de mamar ao seu primeiro bebé a horas
certas da noite.
Trouxe um Petrax.
Ainda se fabrica esta marca de despertadores
suíços?
O menino cresceu, aprendendo palavras
e suas letras,
Um dia escreveu uma redacção, pensando
no Petrax, que lá está em casa, numa estante de livros, repetindo ao longo de muitos e
muitos minutos o seu tic-tac recitativo.
Quando nasci, o Petrax tornou-se
o autor de futuras horas e minutos.
Ainda hoje o seu tic-tac é firme e
robusto.
À força de afectos e palavras, merece a
bonita soma de uma idade altiva.
Enquanto a ciência da mecânica lhe
conferia
o pulsar inocente, vivo, paciente e
ritmado, o seu mostrador envelhecia.
Colaram-se a ele massas de luz e sombras.
Inumeráveis cenas poéticas, adjacentes ao
tempo medido,
transmitiram-lhe o tom sépia das coisas
santificadas.
Fora e dentro do sono, o Petrax é
uma preciosa
acumulação de segredos e memórias.
Fora e dentro do silêncio, ressoam
lembranças
consonantes com o tic-tac recitativo do Petrax doado à minha infância.
consonantes com o tic-tac recitativo do Petrax doado à minha infância.
J. Alberto de Oliveira