7.10.08

O SILÊNCIO VIBRANTE




(...) Falo de uma viagem onde é possível perder o próprio nome, e morrer disso.
E então viver.
Não dormindo, como as nossas bestas respeitáveis.
Viver - digo eu.
E que o nosso afastamento, o silêncio vibrante, a grande morte pensada e amada nas profundidades - fossem bastante para vergar as bestas todas, empurrá-las pelo seu próprio sono abaixo, afundá-las até ao inferno.

Herberto Helder - Apresentação do Rosto

NA CARREIRA DA ESTRELA



Entrando eu num eléctrico (recordo-me bem, era da carreira da Estrela), deparo com Fernando Pessoa que me pergunta de chofre:
– Já notou uma coisa, ó Pascoaes? Há escritores de quem toda a gente fala e ninguém lê, e outros de quem ninguém fala e toda a gente lê. E destas duas espécies, qual, em seu entender, tem mais valor?
Respondi que aqueles de quem toda a gente fala e ninguém lê, e Fernando Pessoa rematou:
– É também a minha opinião.


(De uma entrevista de Teixeira de Pascoaes)

5.10.08

A PRIMEIRA VIAGEM





Não havia mundo.
Não havia coisas.

Era tudo
um fio de quase nada.

Era um fio de luz
o desenho da árvore

onde só havia
sonhos de uma cotovia.


J. Alberto de Oliveira