(...) Falo de uma viagem onde é possível perder o próprio nome, e morrer disso. E então viver. Não dormindo, como as nossas bestas respeitáveis. Viver - digo eu. E que o nosso afastamento, o silêncio vibrante, a grande morte pensada e amada nas profundidades - fossem bastante para vergar as bestas todas, empurrá-las pelo seu próprio sono abaixo, afundá-las até ao inferno.
Entrando eu num eléctrico (recordo-me bem, era da carreira da Estrela), deparo com Fernando Pessoa que me pergunta de chofre: – Já notou uma coisa, ó Pascoaes? Há escritores de quem toda a gente fala e ninguém lê, e outros de quem ninguém fala e toda a gente lê. E destas duas espécies, qual, em seu entender, tem mais valor? Respondi que aqueles de quem toda a gente fala e ninguém lê, e Fernando Pessoa rematou: – É também a minha opinião. (De uma entrevista de Teixeira de Pascoaes)