1.12.23

CAMONIANA

 



Quem és tu, bárbara, que moras

num poema que se estuda nas escolas

e se lê em recitais 

- tu que te limitaste a ser amada

por um poeta que, se calhar, mais

não te deu em troca do amor

do que esse poema que tu, se calhar,

nunca chegaste a ouvir? Quem és,

ó mulher mais cruel do que esse 

poeta  que te cantou, e de cuja vida

ninguém sabe nada - a não ser

que te amou, e te deitou nesse 

poema em que ainda vives, e respiras,

como no dia em que ele o escreveu

lembrando-se do teu corpo, e dos

teus lábios, e dias, ou noites,

que contigo se passaram? Quem és,

mulher real e sonhada que habitas

todos os poemas que esse poema

inspirou, e todos os sonhos que

nessa bárbara encontraram uma imagem

precisa e definitiva? Volta-te

nesses versos, para que te vejamos

o rosto, e diz-nos o teu nome - o nome

autêntico, e não esse que o poeta

inventou para te chamar num poema

que de ti só guarda o segredo;

e adormece, depois, esquecendo

o que de ti disseram, e os comentários

de que foste o pretexto, e as imagens

em que, cada vez mais, foste perdendo

a tua, e única, imagem.

Nuno Júdice

 

Painel - Embaixada de Portugal na Tailândia


29.11.23

O INFINITO CERTO - para Amair


 


Todos os dias procuro

o verbo que não mede


as distâncias mais íntimas.


Todos os dias o procuro

estudando os furtivos


cadernos do tempo.


E se o descobrir

quem me ensina a ler


no ditoso verbo

o infinito certo?

J. Alberto de Oliveira