11.2.16

O REAL SONORO EM M. G. LLANSOL




O meu real é estar a descascar ervilhas e a ouvir Bach.

Teve sempre diante dos olhos a imitação da luz com que nasceu. A luz é a maior sonoridade entre todas as teclas, e instrumentos cuja percussão se faz por meio de martelos.

A função de escrever é árdua; a função de ser igual à música é impossível.

A liberdade deve estar em qualquer parte, e o primeiro acto livre que encontrei foi o da escrita. Só depois procurei a música. Toda ela é um amor interior que ainda não fala. Quem a recebe à porta, é quem o diz. Ela sai e entra, penetra no corpo, transforma-o em pregas de muda dimensão. Muda, por agora. Porque presumo que há-de ensinar-me o dobro das palavras que eu sei.

As consequências da música são imprevisíveis e não têm fim.

A música á mais secreta que a linguagem e sumamente secreto é o lugar para onde desejo ir.

Vou dar um passeio à parte alta do mundo – à música.

Recolha dos textos de Maria Gabriela Llansol por: J. Alberto de Oliveira