20.4.21

O RASCUNHO



Há um exercício adjacente à inspiração: o rascunho.

Eu não escrevo sem o esboço corrigido até à exaustão, porque me engano muito na conjugação dos verbos. Baralho tudo: os tempos, os modos, os aspectos, as pessoas.

É uma agrura que me assiste e justifica esta ideia antiga: os verbos deveriam ser ditos e escritos apenas no infinitivo.

O infinito e depois o infinitivo dos verbos têm muito a ver com a minha infância. Quando eu contemplava o céu em noites estreladas, o espanto e a candura pediam-me palavras de infinitude.

A natureza verbal no infinitivo é simples, justa e firme.

Suscita a amplidão. Alude a uma substância pura.

J. Alberto de Oliveira