Noite
úmbrica.
Noite
úmbrica com a prata do sino e da folha da oliveira.
Noite
úmbrica com a pedra que para aqui trouxeste.
Noite
úmbrica com a pedra.
Mudo o que entrou na vida, mudo.
Esvazia e enche os jarros.
Jarro
de terra.
Jarro
de terra que traz no barro a mão do oleiro.
Jarro
de terra que a mão de uma sombra para sempre fechou.
Jarro
de terra com o selo da sombra.
Pedra para onde quer que olhes,
pedra.
Deixa entrar o burrico.
Animal
a trote.
Animal
a trote na neve espalhada pela mais nua mão.
Animal
a trote adiante da palavra que se fechou.
Animal
a trote que vem comer o sono à mão.
Brilho que não consola, brilho.
Os mortos, Francisco, ainda pedem esmola.
Paul Celan
Tradução: Y. K. Centeno e João Barrento