Naquela fonte muito antiga, desde 1858 que perdura a pedra
onde se escreveu: agoa sem posse.
Magnífico aviso acerca do elemento que é tão munificente
como imprescindível.
Das nascentes a água desce livre ao encontro da sede.
Na inscrição
se mostra e lembra que a água é para fluir como dádiva, como substância do
feminino, viva, pura e corredia.
A pedra,
assim escrita, é um sinal de vigilância para os seres viventes e, sobretudo,
para os poetas, quando são eles a razão e a fonte do verbo sem posse.
APOSTILA
Quando fotografei a inscrição de 1885, agoa sem nome,
ocorreu-me o texto que imediatamente redigi e mostrei a várias pessoas. Um
jurista leu e lembrou: “aquelas raras inscrições eram colocadas a indicar a
posse pública, porque havia muita água de propriedade privada”.
Sim. É a causa real que eu muito bem conhecia. Mas, fazendo
uso do olhar contemplativo, estético e amantivo, escrevi o que escrevi.
Evidenciei a leitura estética, recusando o sentido
materialmente jurídico.
Compus o texto que os olhos me pediam.
Sem o dom poético o olhar torna-se estéril, involutivo e
rasteiro.
J. Alberto de
Oliveira