4.3.23

NO ALTO-MAR


 

Na primeira e única vez em que entrei pelo mar adentro, levaram-me num barquito de pesca. Eu ia pensativo. Nunca abri a boca para dizer fosse o que fosse. Pensava nas profundezas daquelas águas em movimento. O mistério do mais fundo assustava. Mas eu também olhava para o alto. Via o azul que há lá em cima.

Só pensava ou imaginava entre o mais fundo e as alturas.

Para mim, ali no mar, tudo era mistério, temor e recolhimento.

Um grande temor me arrepiava a existência.

Toda aquela beleza tinha o poder de trazer a morte.

Tanto se morre na turbulência das águas do mar-alto como na orla 

de qualquer mar 

onde o tempo é de todos os passos.

J. Alberto de Oliveira