29.12.23

CORES FALANTES


 

Quando em menino eu via um arco-íris ficava muito pensativo diante daquele desenho de cores. Imaginava que ele se devia ao movimento dos anjos ou simplesmente era um arco a levar água para as nuvens nos darem mais chuva. Só mais tarde nas coisas que se aprendem na escola vim a saber o que é o arco-íris.

Mas não fiquei muito contente com as explicações científicas.

Gostei mais de um brevíssimo conto plausível de Carlos Drumond de Andrade. Diz que um dia viu uma tapeçaria onde havia duas cabeças comunicantes, de cujas bocas saem sopros coloridos que, juntando-se, formavam um arco-íris.

Conta o poeta brasileiro:

 “Quem colar ouvido ao estofo, e tiver sensibilidade, escutará esse arco-íris, em sua linguagem murmurejante, contando coisas extraordinárias, passadas no coração do homem e da mulher, pois trata-se de um casal.”

E quase a concluir esclarece:

“As confidências são altas, não porque se exprimam em tom de voz elevada; são altas em si, pela importância do significado, pelo conteúdo patético da informação, que só a cor pode captar bem e, bem captado, se transforma em som, mas só para ouvidos especiais.”

 As cores falantes do amor talvez sejam as do arco-íris. Ouvem-se no segredo, em palavras sentidas pelo silêncio de quem ama.

J. Alberto de Oliveira