A oração de S. Francisco de Assis correspondia a uma síntese da sua alma
em Deus. Era uma fala que subia espontânea ao céu.
Contam, por exemplo, as legendas que Francisco uma vez se hospedou e
pernoitou em casa do amigo Bernardo, aquele que veio a ser o primeiro dos seus
companheiros.
Quando se deitou, depressa fez o semblante de dormir. Bernardo, que
momentos depois se reclinou perto, começou a ressonar com muito ruído, como se
profundamente dormisse. Francisco, pensando que ele adormecera, levantou-se e
pôs-se em oração.
O amigo testemunha que o hóspede assim ficou até de manhã, dizendo
apenas o que seus pensamentos em Deus lhe transmitiam:
̶
Meu Deus! Meu Deus!
Quando Francisco atingia a excelência divina, todo ele se transformava
num sentimento fraterno, único, certo e supremo.
Também eu rezo. Falo com Deus,
Benzo-me em nome de Deus.
Uso muitas vezes o nome de
Deus.
Penso em Deus como quem pensa
muitas vezes sem querer.
Falo de Deus sem saber falar.
Respeito Deus com muita
reverência.
Adoro a Deus não adorando
coisas nem pessoas.
Eu
rezo. Eu falo a Deus sem lhe ver o rosto, sem o ouvir.
Nem sei
se ele olha para mim.
O que
me interessa é falar. Eu sou falante.
Deus
não fala, Deus não reza.
Eu rezo
ou falo, erguendo um som, uma onda, um gemido,
um
louvor que atravessa a vida.
Quanto
menos sei dizer, mais bonita é a minha fala,
porque
assim não me distraio com pormenores acerca de Deus.
Enfim,
com Deus bendita seja a fala ou reza e também o silêncio.
Julgo que Deus não é um
necessitado. Não precisa de nós.
Nós é que precisamos de Deus.
Com razão o agnóstico reza:
̶
Senhor, eu preciso de ti, mesmo que não existas.
J. Alberto de Oliveira