25.7.23

ESCREVIVENDO



Há sempre alguém que me pergunta:

- Como vais? 

Usando o furtivo gerúndio, respondo: 

- Vou escrevivendo.

 


Que língua falam os poetas?

A sua fala tem a cadência amorosa das águas correntes. A  pronúncia é semelhante à 

intimidade verbal do silêncio.

 

 

Creio que foi Jorge Luís Borges quem disse: “não há um dia que passe, em que, por um 

momento ao menos, eu não me eleve aos céus.”

Magnífico, não é?

Também eu, José Alberto, pratico o exercício de me elevar. Na poesia, por exemplo, eu me 

escrevo. Ela é o chão dos meus passos.

Na poesia acontece a liberdade livre, aquele estado em que não sou possuído.

A poesia impede que me anulem. A poesia leva-me a pairar acima da comédia humana, da 

vulgaridade e das trafulhices.

A prosa disseca a vida, enquanto a poesia enamora-se do ser.

 

 

 Um dia alguém me perguntou:

- Por que é que tu és poeta?

Respondi:

- Não sei. Vai interrogar os meus ancestrais que já partiram para a eternidade.

E no outro dia escrevi:

“Quando saio de mim levo sempre uma trouxa de imagens e lembranças às costas.

Assim vou trocando um ror de coisas por alguns poemas.”

 

 

Também já me perguntaram:

- O que é a poesia?

- Ainda não sei o que é a poesia. Mas, vou sabendo o que ela não é.

A poesia não é um assunto ou um tratado. Não se estuda.

A poesia lê-se. Ouve-se. Intui-se. Cria-se. A palavra flui esteticamente.

A poesia é de pouquíssima gente.

Os poetas respiram, ouvem e falam com letras próprias.

 

 

Se na minha poesia houver cem palavras essenciais, é muito.

Procura-as nos versos que já escrevi.

 


Ser poeta.

Que o verbo bem-me-queira!

E Deus me proteja!

 

 

O poder evocativo do poema deve-se à palavra: por sua vez, evocativa de uma realidade 

ausente.

É com subtis e obsessivas palavras musicais que se cria o poema.

É musical a puridade verbal.

J. Alberto de Oliveira