Há
sempre alguém que me pergunta:
-
Como vais?
Usando
o furtivo gerúndio, respondo:
-
Vou escrevivendo.
Que língua falam os poetas?
A sua fala tem a cadência amorosa das águas correntes. A pronúncia é semelhante à
intimidade verbal do silêncio.
Creio que foi Jorge Luís Borges quem disse: “não há um dia que passe, em que, por um
momento ao menos, eu não me eleve aos céus.”
Magnífico,
não é?
Também eu, José Alberto, pratico o exercício de me elevar. Na poesia, por exemplo, eu me
escrevo. Ela é o chão dos meus passos.
Na
poesia acontece a liberdade livre, aquele estado em que não sou possuído.
A poesia impede que me anulem. A poesia leva-me a pairar acima da comédia humana, da
vulgaridade e das trafulhices.
A
prosa disseca a vida, enquanto a poesia enamora-se do ser.
Um dia alguém me perguntou:
-
Por que é que tu és poeta?
Respondi:
-
Não sei. Vai interrogar os meus ancestrais que já partiram para a eternidade.
E
no outro dia escrevi:
“Quando
saio de mim levo sempre uma trouxa de imagens e lembranças às costas.
Assim
vou trocando um ror de coisas por alguns poemas.”
Também
já me perguntaram:
-
O que é a poesia?
-
Ainda não sei o que é a poesia. Mas, vou sabendo o que ela não é.
A
poesia não é um assunto ou um tratado. Não se estuda.
A
poesia lê-se. Ouve-se. Intui-se. Cria-se. A palavra flui esteticamente.
A
poesia é de pouquíssima gente.
Os
poetas respiram, ouvem e falam com letras próprias.
Se
na minha poesia houver cem palavras essenciais, é muito.
Procura-as
nos versos que já escrevi.
Ser poeta.
Que
o verbo bem-me-queira!
E
Deus me proteja!
O poder evocativo do poema deve-se à palavra: por sua vez, evocativa de uma realidade
ausente.
É
com subtis e obsessivas palavras musicais que se cria o poema.
É
musical a puridade verbal.
J. Alberto de Oliveira