18.7.24

NOS RECANTOS DO ÉDEN


 

Afinal, nos recantos do Éden havia bastante impostura. Nem tudo era delícias.

Havia limites à liberdade e uma cobra com muito veneno.

Afinal, Eva e Adão eram precários e originalmente inocentes.

Eram como os futuros humanos e não como deuses.

 J. Alberto de Oliveira


1.7.24

OS SELOS DO PASSADO



 

 

Os selos do passado

fazem da memória

 

um átrio onde o ar

 

avoluma o lume

em volta e dentro de nós.

 

Preciso de vidas amadas

 

que me traduzam

os selos do passado.

J, Alberto de Oliveira


10.6.24

ESCREVER NO SILÊNCIO


 

Às vezes minto nos versos para dizer a verdade que ninguém quer ouvir.

Há frases que escrevo ao contrário de mim mesmo.

Porquê?

Não sei.

Talvez porque tenho pensamentos, imagens e sentimentos que assim me esperam.

 

Escrevo por prazer em forma de palavras o que não sei dizer 

em silêncio.

Mas também escrevo no silêncio o que sobra das palavras

para ninguém saber nem adivinhar  os meus segredos.

J. Alberto de Oliveira

25.5.24

UM BEIJO NOUTRO BEIJO


 


A palavra singular

e ouvida

num tanque de água.

 

A memória sentida

numa folha

de silêncio musical.

 

A síntese de um beijo

cativo do amor

e sopro noutro beijo.

J. Alberto de Oliveira


11.5.24

QUANDO A ALMA É MUSICAL


 

Quando a alma é musical

 

e a matéria afeita ao verbo

se inspira nos dedos do ar

 

o som do violino rima

com os primores de obra-prima.

 

A beleza e o rigor estremecem

como se fossem a gramática

 

de nobilíssimos versos.

J. Alberto de Oliveira


4.5.24

NO COMEÇO


 

Nos dias de quase não existir

eu respirava o que dá vida.

 

Os fios da palavra e o pão

deixavam doçura e vigor.

 

Eu recebia o que dá amor.

O que vai acima do chão.

J. Alberto de Oliveira


17.4.24

SÔBOLOS RIOS QUE VÃO

 


Sôbolos rios que vão

por Babilónia, me achei,

onde sentado chorei

as lembranças de Sião

e quanto nela passei.

Ali o rio corrente

de meus olhos foi manado,

e, tudo bem comparado,

Sião ao tempo passado,

Babilónia ao mal presente.

[...]

Luís Vaz de Camões