[…] A poesia é um artigo de pouca circulação. (…)
Ela é um bem de produção, digamos, artesanal. Embora circule em meios
industrializados, como livros e jornais, e agora nos ambientes electrónicos.
[…] Todo o poema é um voto de pobreza. E isto nem tem a ver
com algum tipo de elevação espiritual ou salvação da alma.
A capacidade de dizer muito com pouco.
A aspiração do poema é exactamente impor-se na sociedade do
consumo e do luxo como um objecto essencial.
Gosto da poesia que tem a capacidade de tocar no essencial,
no sentido em que nada sobra, em que há uma alta concentração. E eu gosto que
essa concentração seja capaz de tocar emotivamente o leitor. Então, talvez a
segunda qualidade seja a sua capacidade de
emocionar. Le Corbusier tem aquela célebre máxima que diz que a casa é uma máquina de emocionar, machine à emouvoir.
No poema Martelo
eu digo:
o poema é ver
com lanternas
que cor é a cor
do escuro.
Daí, procuro situar-me numa fronteira, sempre a martelar,
martelar, a alegria, o amor, a tristeza, a raiva, o susto.