25.1.15

UMA IDEIA EM CHAMAS



Na minha mão esquerda
há uma ideia em chamas.

Na minha mão esquerda 
uma pedra em rodopio
                         
anseia o desvario.

Com a pedra acesa
hei-de quebrar a noite

e os vidros da tua casa
de altas janelas ao luar.

J. Alberto de Oliveira

3.1.15

POÉTICA DE INVERNO





Oh musa bela
no chão da neve!

Sete chamas te peço
para um só verso.

 J. Alberto de Oliveira


27.12.14

OS DEGRAUS DA ESCADA



E o anjo de Dional
veio à boca do poema dizer 
                              
todos os degraus da escada
servem para descer com o vento

e subir ao céu mais alto do ar.

J. Alberto de Oliveira

Imagem: Marc Chagall

19.12.14

ROSA POEMÁTICA




No modo crescente
de ver o ar alumiado

flutua a beleza
alusiva ao júbilo.

É rosa poemática
o aprumo da luz.

J. Alberto de Oliveira

30.11.14

A INOCÊNCIA DA LÍNGUA




Não faço palavras cruzadas.
No dicionário da alma 
procuro somente o que é dito a lume e ao ouvido.
Eu pratico a inocência da língua.

J. Alberto de Oliveira 

17.11.14

O TEMPO DE NÃO HAVER TEMPO




É longo e precioso o tempo que levo 
a recolher as letras necessárias
para escrever o nome das coisas que faltam no poema.

É irrecusável o tempo de não haver tempo.

J. Alberto de Oliveira

14.11.14

O NÓ CEGO




“Eu sou o nó cego do meu próprio nome”, disse o poeta.
E, naquele dia, não escreveu mais nenhum verso ou argumento da melancolia.
Saiu de casa. Desceu ao jardim.
Sentou-se ao pé da sua pedra e ficou a ouvir um canto fora de moda.

A ressonância musical era de cotovias.

J. Alberto de Oliveira

10.11.14

EVIDÊNCIAS



A poesia, o oiro e um vinho de núpcias
nunca se deixam oxidar.

Eternizam a realeza de seus luxos e lustro.

J. Alberto de Oliveira 

29.10.14

LER ENTREPOEMAS




Entrepoemas é um estado afectivo.
Uma sobreimpressão de imagens, lembranças e pensamento.
Ou talvez seja apenas um lugar do devir.
Uma espécie de tela onde figuram os luxos da alma.
Um dia chamar-lhe-ei amoris causa.

J. Alberto de Oliveira
Entrepoemas - Edições Afrontamento

29.9.14

COM AS ÁGUAS DO RIO




Eu jogo e me conjugo
com as águas do rio

mensurando a altura
e a paz da paciência.

Ao ritmo da mão atenta
indo com o rio vou indo.

J. Alberto de Oliveira

13.9.14

SER POETA



Ser poeta.
Que o verbo bem-me-queira
e Deus me proteja.

J. Alberto de Oliveira

27.8.14

O GRITO




Entre as mãos escondo o rosto.
O mundo arde ao abandono.

Ressoa o grito a escaldar de dor.

J. Alberto de Oliveira  

4.8.14

"RUA DA PORTA TREZE" - Vila Nova de Cerveira



ALGUÉM NA RUA


Alguém se serviu
do sol e da altura

para estender
em fios do vento 

sombrinhas às cores.
                                    
Alguém ali me viu
no eixo feliz da rua

altivamente absorto.

J. Alberto de Oliveira

31.7.14

OPUS CONTINUUM





Com o brilho da mão
ensina-me o que sonhas.

Desenha sobre o linho

o verbo mais intenso
em ponto de ouro.

Quero-te sem distracções.

J. Alberto de Oliveira

15.7.14

QUATRO ROSAS RUBRAS





Quatro rosas rubras
de sangue e ternura.

Quatro primícias
luzentes no teu nome

dito por inteiro.

Quatro varas floridas
alumiam oh Mãe

o ar do mês que respiro.

J. Alberto de Oliveira

MEMORANDUM
Olinda Ferreira de Oliveira
13-07-1924 - 16-05-2013

4.7.14

SOPHIA




Quando me inclino sobre a paisagem textual da Sophia
estremeço como um leitor indefeso.
A constelação de versos e frases é tão viva e clara
que me fere o olhar.
As palavras da Poeta evidenciam o injusto e denunciam o impuro.

Muito gostaria eu de também denunciar as mentes académicas
que lhe trocaram o pequeníssimo talhão de terra
ao ar livre
por um panteão propício ao bafio, a turistas e penumbra.

J. Alberto de Oliveira   

1.7.14

OH MARAVILHA DA ALMA


                                               

                                           para a Lys

Oh maravilha da alma
que se alicerça no fulgor

de coisas cheias de infância.

Oh alumiação de ser 
o vento na escrita a corrigir

sentimentos e frases pequenas.

Oh duplo sopro inebriante
ao citar-me o nome de Alice

no país das maravilhas.

J. Alberto de Oliveira

Retrato de Alice Liddell no Verão de 1858

8.6.14

ALUMIAÇÕES



Oh dulçor de segredos e versos
nas alumiações de Bëatrice.

Oh fulgor e maravilha
da grande rosa de três cores.

Oh suma claridade suprema
de substâncias eternas.

Com o teu nome apura o amor
che move il sole e l’altre stelle

a luzir onde luz Dante Alighieri.

J. Alberto de Oliveira


Dante Alighieri - desenho de José Rodrigues

Texto e desenho expostos no Palácio do Freixo - Porto - no
âmbito da Festa de Itália: "o mundo em italiano".

27.5.14

O RUBRO SANGUE



O coração
está sempre a mudar de sítio.

Nunca se engana.
Adivinha onde mais dói.

O rubro sangue
movido pelo sentir do coração

lateja onde a vida mais sofre.

J. Alberto de Oliveira

8.5.14

A ARTE MATERNAL DA MULHER




A mulher
não esconde a sua natureza

íntima e cúmplice da terra.

É lição exímia da realeza
a arte maternal da mulher.

J. Alberto de Oliveira

Desenho - (1902): Pablo Picasso - Maternidade