23.6.21

ALUMIAÇÕES E LEMBRANÇAS



 

Quando era criança, os nomes que dizia, todos ou quase todos,

eram incompletos.

Somente as formas e a grandeza das coisas permaneciam inteiras

nos meus olhos.

Com os objectos do mundo, na sua complementaridade justa e geométrica,

eu compunha as primeiras frases, incautas, frágeis e breves.

Eram linhas de fulgor, lúdicas, miríficas e matinais.

 

As letras nasciam no momento em que os olhos de ser

e a mão de escrever

tocavam e subiam aos sentidos do silêncio.

 

Pedra a pedra ainda saberei construir a idade que me resta?

Quem me ajuda a erguer ou a restaurar casas invisíveis

em lugares inacessíveis?

São casas ou abrigos para as folhas do pensamento,

para as alumiações

e para os segredos que um dia não poderei levar comigo.

J. Alberto de Oliveira