Adivinho
desde menino que o vento não envelhece.
Dura
o tempo todo.
Eu
sei que o vento gostou sempre de me instruir
com
palavras do mansinho e palavras incendiáveis.
Eu
teria uns setes anos de idade.
Nesse
dia eu regressava da escola sozinho e meditabundo.
Quase
de súbito o vento começou a endiabrar-se.
Esfarrapava
as nuvens negras e as últimas folhas do outono.
O
vento quando corre furibundo parece que vai a todos os buracos escuros.
Com
a língua seca eu lambia o medo.
Os
olhos começaram a ficar em nó cego.
O
tempo e o vento mediam-me os passos pensativos.
A
alma afinava a minha pobreza de criança.
Os
relâmpagos alumiavam o mundo.
Só
por Deus eu ouvia o vento e trovejos de pavor e susto.
Por bem encontrei um moinho.
Entrei
cerrando a porta.
Havia
ali um saco de serapilheira.
Deite-me
nele e adormeci ao ritmo da mó a moer grãos de milho.
Quando
fui para casa o dia estava no fim e o vento soprava macio.
J. Alberto de Oliveira