3.4.21

O VENTO NÃO ENVELHECE


 

Adivinho desde menino que o vento não envelhece.

Dura o tempo todo.

Eu sei que o vento gostou sempre de me instruir

com palavras do mansinho e palavras incendiáveis.

Eu teria uns setes anos de idade.

Nesse dia eu regressava da escola sozinho e meditabundo.

Quase de súbito o vento começou a endiabrar-se.

Esfarrapava as nuvens negras e as últimas folhas do outono.

O vento quando corre furibundo parece que vai a todos os buracos escuros.

Com a língua seca eu lambia o medo.

Os olhos começaram a ficar em nó cego.

O tempo e o vento mediam-me os passos pensativos.

A alma afinava a minha pobreza de criança.

Os relâmpagos alumiavam o mundo.

Só por Deus eu ouvia o vento e trovejos de pavor e susto.

Por bem encontrei um moinho.

Entrei cerrando a porta.

Havia ali um saco de serapilheira.

Deite-me nele e adormeci ao ritmo da mó a moer grãos de milho.

Quando fui para casa o dia estava no fim e o vento soprava macio.

J. Alberto de Oliveira