As
realidades imaginadas são mais lembradas e seguras na memória que os acontecimentos
do quotidiano.
Isto
só para dizer que em menino eu era imaginativo.
A
imaginação nasce do pensar, ver e sentir atentamente.
É
um exercício interior.
Eu
quase não mentia. As verdades eram minhas e saíam do mais íntimo de mim.
Quando
eu era menino inventava peripécias e brinquedos, adivinhava o invisível,
imaginava esferas nunca vistas.
A
Mãe, sempre atenta, dizia: és um malandro e enganador.
Eu
amava a ironia. Esse modo crescente da lucidez.
Eu
era malandro.
E
a mão que assim escreve ainda não treme.
Ela
sabe que o branco foi dado
às
horas mais brancas de haver infância.
J. Alberto de Oliveira
Imagem: Joan Miró