PARA QUE NÃO SERVE A
POESIA?
Uma questão de M. B.
A poesia não serve para quem não precisa de poesia.
Ela é tão preciosa que não serve para uso comum. Não é
descartável. Não é matéria de desperdício.
Presumo até que a poesia não serve para nada, porque não
gosta de ser usada.
A poesia flui à margem das imposturas da língua. Dá-se mal
com as mentes orçamentais.
Mas talvez a boa resposta se ilustre com o diálogo entre o
poeta e um académico de economia que não entendia o sentido da fala humana e,
por isso mesmo, insistia na pergunta:
– A que te referes: aos
porcos ou às pérolas?
– Aludo à sabedoria do aviso: não demos pérolas a porcos!
– Os porcos são animais que têm fome. Eles devoram tudo.
– As pérolas são indigestas e muito belas! – disse o poeta.
– Mas os porcos gostam ou não gostam de pérolas?
– Calcam-nas aos pés com voluptuoso desdém.
E não entendia ou não queria abrir-se à inteligência da sensibilidade.
Mas eu, o poeta, mais tarde ou mais cedo, ainda hei-de trocar toda a metafísica do mar por sete versos de pérolas.
J. Alberto de Oliveira
20/04/2016