O poema que vou escrevendo irrompe nas folhas de rascunho como um ajuste de contas. Pela trama da emoção, pelo ritmo e rigor que lhe transmito, amadurece luzente e altivo.
O poema que vou escrevendo acontece à hora de vigília clandestina. Respira pela calada sensitiva do pensamento. Esquiva-se ao lápis da censura. Foge ao gume da tesoura inquiridora. Despista qualquer investigação policial.
Quero um poema que minta, ao ponto de se transfigurar em vórtice da verdade.
O poema é segredo e a estratégia. Sangra em silêncio e mistério.
No poema, sou mensageiro de mim ou de quê?
No poema que vou escrevendo, de quem é o desejo?
J. Alberto de Oliveira