3.10.08

ESTRELA VIVA NO CÉU





Estrela viva no céu
de tão alto sonhar

diz-me o que vês.

Ensina-me a escrever
segredos de poeta.

Dita-me um poema.


J. Alberto de Oliveira

Fotografia: Carlos de Oliveira

19.9.08

UMA VARA DE FOGO





Uma vara de fogo
me seca a boca.

O ar é pensativo

e quase absorto
nas letras que respiro.


J. Alberto de Oliveira
Fotografia: Ana Afonso

18.9.08

FIGURAS DE BRUMA




Figuras de bruma
iluminam o horizonte.

Acendem as águas
negras do mundo.

Figuras de névoa
de alma e sonhos

perfumam o ar
e o alto silêncio.

Voam com o vento
quando eu corro

atrás de segredos
que já foram

abrigos do fogo.

J. Alberto de Oliveira
10/08/2008
Fotografia: Ana Afonso

TRÊS VEZES AMOR



                                   para a Inês

A menina veio 
para dizer

três vezes amor.

furtivamente
um fio invisível

em pleno 

voo do vento

lhe tocou no rosto.

J. Alberto de Oliveira

30.7.08

SALMO




Livra-me Senhor
das máquinas do vazio.

Livra-me do martelo 

duro da dor

a bater como bate

um coração rude e frio.

J. Alberto de Oliveira

23.7.08

A CASA




A casa que se fez
de alma e pedra

no interior do lugar
e do desenho 


é obra do alicerce.

Mostra a nudez
rasgada na janela.

Acende o silêncio
na primeira chama


que lhe traz o vento.

J. Alberto de Oliveira

25.6.08

O SEGREDO MAIOR





No lugar onde ouvi
o segredo maior


havia um tanque
de água e limos

e delírios da alma.

Florido estremecia
na água o linho.

Estremecia o silêncio
rente à flor do segredo.


J. Alberto de Oliveira

12.6.08

O MENSAGEIRO





Não conheço paixão mais profunda nAquele de que sou mensageiro do que poder dizer, com verdade, a toda a mulher: Bendita sois entre todas ____________.

Maria Gabriela Llansol
in Lisboaleipzig 2

10.6.08

DUAS PALAVRAS





- Onde vais buscar o linho verbal que há nos teus versos?
- À substância unitiva e configurante dessas mesmas duas palavras.


J. Alberto de Oliveira

4.6.08

A PRONÚNCIA MUSICAL DE J. S. BACH




Ó amantes de geometria e matemática! Quem de vós, porventura, já leu abismos, equações, alturas, ângulos e fracções luminosas num desenho musical de J. S. Bach?

E qual a distância entre o fulgor tangível de uma flor e a pronúncia musical de J. S.Bach?

J. Alberto de Oliveira

6.5.08

O ROSTO QUE SONHA



                                                     para José Rodrigues

Não se sabe donde
vêm a mão
o silêncio e a luz.

Com elementos primordiais

e legendas vivas
do Santo de Assis

descem e mostram o rosto
que sonha demasias.

São demasias de ser 
e ternura.

Debaixo da mão
do silêncio e da luz

resplende e sonha
o primeiro de muitos rostos.

J. Alberto de Oliveira

5.5.08

O LUME VIVO





A mão no silêncio
da noite perfumado.

O lume vivo
na mão extasiado.


J. Alberto de Oliveira

DO CANTO MAIOR




[...] perguntam à Sulamita o que o seu amado tem de particular, sobretudo que tem ele que elas também não tenham nos seus


e ela desce ao pormenor de lhes dizer como ele a faz [...],


fechou-se na minha antecâmara, penetrou nos meus luxuosos apartamentos, brincou com os brincos e os colares, com os mamilos e os dedos, com os tecidos e os lábios,


com as colunas e as minhas longas pernas onde gosta de se enrolar como heras e vinha virgem, embrenhou-se, parou ofegante,


deslizava pela minha pele mais escura que a noite, corria pelas minhas formas mais firmes que o solo dos seus combates e, finalmente, depôs em mim o segredo do seu veneno; quando acordei, estava só e tive medo que tivesse morrido ou, se morto,


eu não conseguisse encontrá-lo como meu, ou eu?


Maria Gabriela Llansol - ONDE VAIS DRAMA-POESIA?

10.4.08

OS SONS DA MELANCOLIA




Um fio de voz sentida
por acção íntima do vento

é obra das mãos.

Os sons da melancolia
ouvem-se rente ao chão.

J. Alberto de Oliveira

4.4.08

A ALMA A PRUMO




Entre os primeiros fios
de sangue e pensamento

ardia a fala da alegria.

Entre o amor no poema
e o fulgor da infância

luzia um verso profundo.

Via-se num filamento
a alma a prumo.

De júbilo era a música.

J. Alberto de Oliveira

Fotografia: Carlos de Oliveira

21.3.08

UM NÚMERO VAGABUNDO




Por sorte em mim o que lês
ao ritmo das coisas nascentes?


Um número vagabundo.


O número ímpar e propício
aos rituais
do vento e da primeira luz.


J. Alberto de Oliveira

17.3.08

MARIA GABRIELA LLANSOL



Maria Gabriela Llansol, que "temia a impostura da língua", tornou-se vulnerável às "sombras do luar libidinal".
Doou-nos o fulgor da textualidade.
Convida-te a seres legente do texto, do "desejo insustentável de eternidade".
M. G. Llansol ensina que "escrever é amplificar pouco a pouco" e que o acto de ler é "uma alma crescendo".

J. Alberto de Oliveira

6.3.08

O VESPERTINO COMEÇO




Com o vespertino começo
de uma luz enlevada

alguém me ensina a ler
a alegria do enamoramento.

No aprumo da claridade
a cadência é mútua.

O ritmo é da intimidade.


J. Alberto de Oliveira






22.2.08

PARA ALÉM DA MARGEM




Os poetas, os santos, os artistas - no seu obstinado desassossego e desejo de perfeição - atingem a consciência, a lucidez sensível e altiva do que são e onde estão:
para além da margem.

J. Alberto de Oliveira

19.2.08

EM SETEMBRO








A mulher que em setembro
corre ao vento pelo mundo

alude o amor e o sangue
de seu maternal aprumo.

Resplendece ao vento
a mulher que em setembro

leva rosas da infância
e júbilo em seus cabelos.

J. Alberto de Oliveira