19.10.24

A ROSA ANTERIOR






A rosa anterior às súbitas 

gotas de chuva.


A rosa e o pó

de seu perfume


inauguram 

o princípio do fulgor.


A rosa espera

apenas outro nome.

J. Alberto de Oliveira


4.10.24

SEM BIOGRAFIA


 

Não tenho biografia.

Eu sou um dia após dias e dias intemporais. Ou talvez a memória apenas de mim

próprio, A memória donde vim e para onde vou.

 

Uma vez alguém me perguntou:

- Por que é que tu és poeta?

Respondi:

- Não sei. Vai interrogar os meus ancestrais que já partiram para a eternidade.

E no outro dia escrevi:

“Quando saio de mim levo sempre uma trouxa de imagens e lembranças às costas. 

Assim vou trocando  um ror de coisas por alguns poemas".

J. Alberto de Oliveira


4.9.24

SÃO HORAS DO MAR


 

São horas do mar

atento

ao barco de ontem no horizonte.

 

É o mar que todo

se dobra sobre si mesmo

 

para me

deixar uma frase

no fim de cada pensamento.

J. Alberto de Oliveira


9.8.24

A VERDADE NO BRANCO


 

A verdade no branco

da página do universo

 

como posso vê-la?

 

A haver continuidade

depois de morrer


qual será ó Deus

 

a minha substância

definitivamente?

J. Alberto de Oliveira

 


18.7.24

NOS RECANTOS DO ÉDEN


 

Afinal, nos recantos do Éden havia bastante impostura. Nem tudo era delícias.

Havia limites à liberdade e uma cobra com muito veneno.

Afinal, Eva e Adão eram precários e originalmente inocentes.

Eram como os futuros humanos e não como deuses.

 J. Alberto de Oliveira


1.7.24

OS SELOS DO PASSADO



 

 

Os selos do passado

fazem da memória

 

um átrio onde o ar

 

avoluma o lume

em volta e dentro de nós.

 

Preciso de vidas amadas

 

que me traduzam

os selos do passado.

J, Alberto de Oliveira


10.6.24

ESCREVER NO SILÊNCIO


 

Às vezes minto nos versos para dizer a verdade que ninguém quer ouvir.

Há frases que escrevo ao contrário de mim mesmo.

Porquê?

Não sei.

Talvez porque tenho pensamentos, imagens e sentimentos que assim me esperam.

 

Escrevo por prazer em forma de palavras o que não sei dizer 

em silêncio.

Mas também escrevo no silêncio o que sobra das palavras

para ninguém saber nem adivinhar  os meus segredos.

J. Alberto de Oliveira